quinta-feira, agosto 26, 2010

Sobre um dia qualquer

A tarde não era quente nem fria e devia ser quarta-feira. Talvez houvesse um garoto na esquina arriscando malabares por trocados. Talvez as calçadas estivessem cheias de gente, talvez de lixo.

Era outono e o vento amarelo alaranjado trazia um gemido velado pela janela do quarto. Havia duas pessoas e havia uma toalha molhada na cama. Os lençóis estavam perfeitamente lisos.

Só o homem falava. Uma confissão, uma prece e uma banalidade. A mulher via através da janela as velas brancas arqueadas no mar longe. Hoje o branco parecia uma cor tão antiga... Talvez devesse responder. Responderia se soubesse do que se tratava. Houve o silêncio e o som da porta fechando.

E ela deixou de amar.

A tarde não era quente nem fria e devia ser quarta-feira. Malabares e trocados e calçadas e gente seguiam como antes. O outono e o vento tinham as mesmas cores. Ainda havia a toalha molhada na cama, e o lençol estava perfeitamente liso.

domingo, agosto 01, 2010

Quatro pequenas confissões.

Tenho pés pesados demais. Desde que me lembro. Mas noites exigem um tango argentino e eu sigo riscando desajeitadamente os tacos do chão.

Eu sempre minto, antes de dormir: "- De que me importa?"

Gosto das notas fora de compasso. Eu sei como elas se sentem.

A minha palavra favorita é o soluço.