terça-feira, dezembro 18, 2007

do sono...

Foi assim:
num segundo de distração
enquanto eu contava carneirinhos
eles comeram meu travesseiro.


[sim, eh bobo.
mas é como as noites funcionam...]

terça-feira, dezembro 11, 2007

nanquim...

Tentava. Mesmo.
Mas, no fim de cada verso,
rimar sempre pareceu tão ridículo...
"essa noite, a noite vai ser um soneto."
mas não rimava.
nunca rimou... ridícula.

se quisesse dançar de pijamas e meias na sala de estar
se quisesse desafinar enquanto cantava baixinho no ônibus
se quisesse ter uma plantação de batatas fritas no quintal
mas queria rimar
o que poderia ser mais ridículo?

cresceu e virou engenheira.

quarta-feira, outubro 17, 2007

Insônia

Essa noite eu não vou pra cama.

Eu tenho uma noite longa,
três mosquitos zunindo por dentro,
e um travesseiro de pedras me esperando.
Não, essa noite eu fico aqui.

Essa noite a culpa é minha.
Todas as culpas, na verdade,
de todas as coisas.
Eu as quero - as culpas.
As coisas deixaram um vazio grande demais aqui;
as culpas sempre são maiores que as coisas.
Sim, culpas devem bastar pra me preencher.

Homens são feitos de soluço
do incomodo vazio, do mal estar,
da consequência do choro.
Homens são talhados em mofo, talvez
talvez em sombra,
talvez nem sejam.

E a noite
e o que me resta
o que é?

-Sou eu... - a culpa, sedutora, sussurra em meus ouvidos.


[Quem quer que tenha levado as coisas todas,
que tenha roubado o desvazio que eu era antes,
volte e leve também os sentidos do que havia.]

terça-feira, outubro 16, 2007

Diário

O dia nasceu torto...
Aquela beleza sutil das coisas erradas,
aquela clareza absurda das coisas perdidas.
Hoje o dia nasceu incompleto
e só vai até as 11.

[o passar das horas me incomoda;
o dos segundos é insuportável
muito mais que um cigarro pode curar.]

terça-feira, agosto 21, 2007

~..~..~..~

o pé, os dedos e a grama entre os dedos.
o jardim.
porque é verão.

o verniz de saliva sobre o dedo impecavelmente erguido
- e é essa toda a técnica que a infância permite a um dedo de 8 anos
avisa que é hora boa.

a disparada.

os estalos do papel rasgando o vento
e os estalos dos pés rasgando a grama
estalam.

(não se pode pensar coisas pesadas
quando os momentos são de leveza)

sobre as mãos sobre a cabeça, os dedos miúdos
soltam devagar o lápis atravessado no carretel
(de linha verde, que era a única que a avó não notaria caso sumisse)

os olhos do menino
que olha para trás quando corre
vão subindo devagar
feito letrinhas -castanhas- de fim de filme,
postas na melhor cena.

[saltando de tarde em tarde,
o menino que brinca de vento
vai brincando de vento.

Enquanto houver menino, grama e verão,
ele ventará.]

segunda-feira, junho 11, 2007

solilóquio

A gente tinha combinado, lembra?
tudo ia ficar tão bem...
quando chegasse a chuva
e você precisasse de um disco triste
ou quando chegasse o fim da tarde
e você precisasse de menos vermelho
na parede do quarto novo...
tudo...
Você com aquela mania
de enrolar as orelhas do seu cachorro de pelúcia
ia me ligar,
mentir um punhado de sorrisos
e, depois de 5 minutos, ia acreditar em todos!

A gente tinha combinado, lembra?
tudo... tão bem...
o circo que não veio pra cidade
tinha malabaristas incríveis.
o que não veio pra cidade...
A gente ia aprender malabares
e passar as tardes brincando com fogo!
Quando errasse o passo, tudo bem:
a gente ia cantar 3 versos assim
fazendo graça no contratempo
e sair se rindo da confusão

A gente tinha combinado, lembra?
nem isso nem aquilo.
você essa menina assim:
que amava só porque achava bonito amar
e cantava só porque achava bonito
o som que fazia quando alguém dançava sem saber.
E ia dar tudo tão certo!
e devia dar tudo tão certo...

Mas você...
E agora...
Agora esses olhos assim,
cinza
e azuis eles eram tão mais bonitos...
o que que a gente esqueceu?
o que que a gente deixou p'ra trás?

A gente tinha combinado, sabe?
e agora, amanhecer assim
feito costurar os pulsos
e eu nem tenho mangas longas que escondam cicatrizes.
eu nem tenho...

segunda-feira, maio 07, 2007

Aquele homem era isso

de olhos secos de pó
pó pesado
poeira fina
pó vermelho-miserável
de vida-sangue;

de duas mãos ásperas
e calos que transpiravam areia.
calava.
a enxada, o inchaço
de duas mãos secas.

era sertão
e ser tão... qual era a palavra?
é ser isso.

Feito santo milagreiro,
Porque milagre é ser inteiro
Feito disso.

Milagre feito vela a quem se reze
Feito verdade que derrete
Feito verdade-cera
de pingos que se moldam na palma da mão.

Homem feito vinho.
Feito tinto.
Feito falta. Fato.
Água.

Feito meio, meio-mito
gente antiga
feito pele, feito sangue
feito gente que ficou.

segunda-feira, março 26, 2007

teddy...

- Mas lá tem um monstro enorme... Tem, sim! E de dentes grandes e afiados...
e quando ele respira dá pra sentir o lençol tremendo!

- Que me importa? O que eu tenho a ver com isso?'

- Tem que ele só está esperando que eu durma pra me engolir inteiro. Sem nem mastigar! Você vai ter pesadelos horríveis pelo resto da sua vida... a culpa vai lhe consumir, ouviu!

- Bela tentativa, querido, mas você ainda vai ter que dormir no sofá até passar a ressaca.

[tem gente que eh esquisita mesmo...]

sexta-feira, março 09, 2007

gravidade

Parou no meio da música esquecendo a gaita a selar a boca. Procurou de olhos fixos na parede fria um pensamento bom. Na parede... que está descascando... amanhã é domingo. E guardou a gaita no bolso do paletó sobre a cadeira.
A TV muda brilhava um astronauta russo (ou polonês?) no quarto escuro. Eu devia ter sido astronauta. Ou marinheiro. Com quinze mulheres! E desligou a TV fugindo da companhia absurda.
Era advogado. Culpa da gravata vermelha que ganhou de uma tia aos oito.
Gastou quase dez minutos sentado à beira da cama. Era como contornar impacientemente a mesa da sala de jantar sem ter que contornar a mesa da sala de jantar.
Alô? Não, não é daqui. Não, meu senhor, não é! Bateu o telefone que acabara de tocar. Bateu e pulou para alcançá-lo novamente. Há horas impedia-se de tocar o aparelho e, quando houve a oportunidade, traiu-se. Tocou. Até quase quebrar cada tecla.
Quem você pensa que é?! Quem... o que é você? Que vil, estupida, pequena! Me diz, o que você fez com tudo?
Não ligou para ela. Ligou para o Felipe.
“Que que eu faço, cara? Que que eu faço agora?”
“...esquece, pô... Não pode fazer nada. E mulher é assim mesmo. Já isso passa.”
E encheu outra vez o copo de conhaque.

quinta-feira, março 01, 2007

......... ............

aquele espaço entre os dias
aquele instante quase imperceptível que fica
quando o encaixe imperfeito dos dias
deixa um tanto de tempo escapar
aquele milionésimo de segundo
- a conclusão de toda metafisica que se pode conceber.
aquele quase-nada entre a lembrança e a saudade
entre a saudade e o vazio

e a noite às vezes demora tanto...


[Os dias parecem grandes demais
quando se contam os minutos
E quando se contam os minutos
é mais fácil perder a conta]

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

segunda-feira, janeiro 08, 2007

meia noite

quando o abajur dormiu,
o pijama e a camisola de cetim
se abracaram ao lado da cama.
ficaram assim, um enterrado no outro,
até ele erguer a mão num convite.
dançavam e, como não houvesse música,
ela sussurrava nas pontas dos pés
um 'lalarara' leve de seda azul.
depois de três músicas e dois compassos,
os dois se livraram de seus donos
e se embolaram devagar no chão.


[coisa antiga. que ja devia estar
aqui ha meses, mas ha meses que eu mesmo
nao estava aqui, entao...]

[resolucao de ano novo: voltar!]