domingo, janeiro 29, 2006

só pra constar...

A noite passada foi boa como a muito tempo não acontecia...

Alguém alguma vez já parou p'ra pensar
que mesmo os cachorros de rua,
desses que ficam nas calçadas das padarias
vendo um frango rodar na máquina de assar frangos,
podem ter noites maravilhosas?

eu nunca tinha percebido...

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Necessidades...

Sinto falta das cortinas do meu quarto.

Passei a manhã inteira desenhando
mas isso não me fez menos só.
Acho que não acredito mais em desenhos.
Preciso fechar algumas cortinas.

Eu já não acredito em tanta coisa,
acreditar não é tão simples
e eu não sou mais tão leve.

Preciso parar de ver coisas
de sentir coisas
de quebrar coisas
preciso parar.

Preciso de um sorriso enquanto ainda acredito neles.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

sobre as marcas...

Então foi isso. Hoje voltei a ter aulas de FBD. Traduzindo: mais tempo pra escrever na faculdade...

Sabe aquelas horas em que você está realmente concentrado durante a aula? Pois é... Hoje eu estava assim e comecei a olhar p´ro chão.
O chão da sala, que é novo, já está todo marcado. Juro que não entendi. Olhei para cima e não encontrei nenhuma marca no teto. Ora, eu, ao menos, garanto que passo muito mais tempo no teto que no chão, na aula de FBD! (Mas quem vai entender dessas coisas de deixar marcas, né?)
A parede também está marcada. Manchada. Bem atrás do quadro negro. Não vejo, mas sei que ali há marcas. A parede esconde tudo lá porque de manhã, antes das aulas, as meninas desenham coisas boas no quadro e ela gosta de fingir que os desenhos substituem suas cicatrizes.
Hoje eu risquei dois olhos e uma boca no canto da parede. Assim ela vai poder sorrir de vez em quando.

(acho que estou gostando dessa coisa de escrever pra ninguém saber o que eu quero dizer..)

sábado, janeiro 14, 2006

motivo...

'Por que?'

'Porque ela passa assim toda noite
e porque isso de passar é só dela.
E porque a noite, com inveja, não quer mais passar.

Porque ela passa assim
como uma voz que ecoa
um 'espera, fica aqui...' ao pé do ouvido
e diz e sai correndo...

Porque meus olhos roucos
levam noites pensando como dizer
coisas que a façam parar
mas eles não conseguem,
porque olhos falam, não pensam.

Porque o outono era feliz até ela passar
mas hoje, quando ela se vai,
As folhas inocentes se jogam dos galhos
porque em outra vida queriam ser flores.'

[tem coisas que não têm mesmo porquê
mas mesmo assim vem sempre alguem e pergunta...]

quinta-feira, janeiro 12, 2006

agora

Eu queria voltar a escrever coisas pequenas
mas em quantas linhas se resume a tristeza?

Ontem eu fui à praia
e ela não era tão bonita quanto eu lembrava.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

imersão...

Uma noite você esbarra em uma porta.
Portas nunca deixam muitas escolhas...
Você entra. É uma sala estranha.
Que cores têm as paredes?
e por que você pisa nas paredes?
os quadros, todos no chão, têm telas rasgadas
e marcas de pés.
Ninguém ali nunca pisou no chão.

Um menino à frente
brinca de imitar tudo o que uma sombra traquina faz
(crianças são assim:
bem mais livres que nós
que temos que decidir tudo pelas sombras)
Mas a sombra não toca as paredes,
Se equilibra entre as palavras do garoto.

Um cheiro doce toma a sala
um cheiro antigo e suave...
Vem de um pôr-do-sol sobre a mesa de canto
porque é outono.

Há um espelho ao lado da porta.
Você corre para o outro lado
e, no outro lado, o avesso de um fantasma
com o seu rosto e nenhuma voz.

Há uma lareira no espelho
mas não há fogo.
Fantasmas são frios.

Uma voz te pergunta
‘O que é isso em teu bolso?’
e você, nu, não responde.
A voz insiste
‘o que é isso em teu bolso?’
mas o que é mesmo isso em teu bolso?

Você tem 7 crimes e 7 motivos.
Você é perdoado 7 vezes do outro lado do espelho
mas é apenas o outro lado do espelho
e um perdão é menor que um motivo.

Que cores têm as paredes?
e porque você pisa nas paredes?

Você tem agora duas escolhas:
Azul ou Macaco.
E nada é tão obvio agora.
E nada é tão obvio agora.

Sua sombra te convida a uma escolha
-cuidado, diz a voz, sombras não enxergam cores!

Mas você sabe que sombras ouvem cores
melhor que você jamais sonhará ouvir.
E as cores todas soam mais tristes que qualquer blues.
Você se junta àquela criança.

Há palavras soltas na sua mão
Quem escreveu na sua mão?
E por que as folhas todas estão em branco?
Que segredos elas guardam?
(o que restou do outono?)

Você ainda não tem nenhuma pergunta
E há respostas abrindo as janelas
mas você simplesmente não as entende
nada é tão obvio agora.
e nada é tão obvio agora
que a sala entrou em você.

[não sei com você, mas comigo acontece sempre...]

terça-feira, janeiro 03, 2006

Sobre os sonhos e sobre acordar...

Sobre um homem que um dia dormiu
e sonhou por uns quatro anos
até que um dia alguém deixou cair
qualquer coisa boa ao lado da sua cama

e me parece que coisas boas quebram facilmente.
ele acordou com um susto.
(como se fosse, ao invés de acordar,
sonhar dentro do sonho.)


P´ra onde ele olha?
Aquela esquina de sempre,
que esquina é aquela?
e os carros e as casas
e os rostos em preto e branco
que gente é aquela?
ele não sabe...

e se a esquina adiante
não lhe parecesse tão distante agora
talvez fosse até lá tomar dois litros de ovomaltine
e cair bêbado em qualquer outra esquina em preto e branco
(que cores o condenariam agora?
a que dores o condenariam agora?)

Por um momento ele queria ser feito
daquilo que são feitos os sonhos
e por um momento ele queria
não ser feito de nada.

Até os sonhos terminam alguma hora.
e o que vem depois dos sonhos?
Fica a gente, ficam os travesseiros,
fica o tempo e fica o vazio a preencher o tempo.
Depois, passa também o tempo
e, com sorte, passa também o vazio.

ele senta-se a uma mesa e espera.
e sentará ali por dias intermináveis
até que venham o cansaço e o sono
a convidar o travesseiro.
Sim, ele sonhará novamente
e não importa o que aconteça
vai aprender a sorrir outra vez..

por algum motivo,
qualquer coisa entre Morfeu, Eros e Tanato
não nos deixa em paz...