quarta-feira, novembro 05, 2008

sobre as cores

[O que acontece com as manhãs quando chove?]

chove.
a menina que espera o ônibus tem olhos de aquarela
e azul sempre escorre assim tão depressa que

a menina, e a rua,
e os bancos da praça
tudo é desenhado a mão num pedaço de guardanapo,
amassado e atirado ao chão da calçada.

e esse som antigo
e essa cor enorme
e o cheiro de guardado dos jardins
tudo inunda o tempo com o peso do mundo.

porque as nuvens de chuva sempre vêm em tons de cinza
as sombras viram tormentas
e os balanços no parque parecem só correntes.

O onibus chega
guardado, antigo, enorme.
e ninguém mais ouve o som que a menina faz quando respinga.


e hoje parece que tudo foi sempre um março só.

domingo, outubro 12, 2008

dos segredos...

Esse frio, você sente?
Esse vento congelando suas unhas
Esse uivo sutil entre seus dedos
Esse frio...

Esse frio sou eu.

quarta-feira, julho 09, 2008

do tempo perdido

p´ra onde vai o tempo perdido?

os segundos que caem de relógios furados
que escorrem pulsos, palmas e dedos
e se desfazem - com que cor? - no chão

os anos que caem devagar no meio do caminho
p´ra onde vão?

[na verdade não me importo.
quem um dia encontrar um instante meu
saberá que eu sou.]

segunda-feira, junho 23, 2008

a rosa


É como a rosa-dos-ventos.
de todos os ventos.
ao mesmo tempo.
O frio, o desequilíbrio,
o ruído ensurdecedor,
o arrepio condensado
pêlo-a-pêlo,
A mão, o braço, o ombro, o pescoço.
O gelo que alcança a nuca
e a gota fria da vertigem que percorre a espinha.

Sim, é como o verso dos ventos;
como gritar em todas as direções.
Mas isso não se explica assim, numa folha de papel.
Todas as canetas são pretas demais
e tudo vira só um desenho
perdido no canto do mapa.