quarta-feira, janeiro 11, 2006

imersão...

Uma noite você esbarra em uma porta.
Portas nunca deixam muitas escolhas...
Você entra. É uma sala estranha.
Que cores têm as paredes?
e por que você pisa nas paredes?
os quadros, todos no chão, têm telas rasgadas
e marcas de pés.
Ninguém ali nunca pisou no chão.

Um menino à frente
brinca de imitar tudo o que uma sombra traquina faz
(crianças são assim:
bem mais livres que nós
que temos que decidir tudo pelas sombras)
Mas a sombra não toca as paredes,
Se equilibra entre as palavras do garoto.

Um cheiro doce toma a sala
um cheiro antigo e suave...
Vem de um pôr-do-sol sobre a mesa de canto
porque é outono.

Há um espelho ao lado da porta.
Você corre para o outro lado
e, no outro lado, o avesso de um fantasma
com o seu rosto e nenhuma voz.

Há uma lareira no espelho
mas não há fogo.
Fantasmas são frios.

Uma voz te pergunta
‘O que é isso em teu bolso?’
e você, nu, não responde.
A voz insiste
‘o que é isso em teu bolso?’
mas o que é mesmo isso em teu bolso?

Você tem 7 crimes e 7 motivos.
Você é perdoado 7 vezes do outro lado do espelho
mas é apenas o outro lado do espelho
e um perdão é menor que um motivo.

Que cores têm as paredes?
e porque você pisa nas paredes?

Você tem agora duas escolhas:
Azul ou Macaco.
E nada é tão obvio agora.
E nada é tão obvio agora.

Sua sombra te convida a uma escolha
-cuidado, diz a voz, sombras não enxergam cores!

Mas você sabe que sombras ouvem cores
melhor que você jamais sonhará ouvir.
E as cores todas soam mais tristes que qualquer blues.
Você se junta àquela criança.

Há palavras soltas na sua mão
Quem escreveu na sua mão?
E por que as folhas todas estão em branco?
Que segredos elas guardam?
(o que restou do outono?)

Você ainda não tem nenhuma pergunta
E há respostas abrindo as janelas
mas você simplesmente não as entende
nada é tão obvio agora.
e nada é tão obvio agora
que a sala entrou em você.

[não sei com você, mas comigo acontece sempre...]

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