sexta-feira, março 09, 2007

gravidade

Parou no meio da música esquecendo a gaita a selar a boca. Procurou de olhos fixos na parede fria um pensamento bom. Na parede... que está descascando... amanhã é domingo. E guardou a gaita no bolso do paletó sobre a cadeira.
A TV muda brilhava um astronauta russo (ou polonês?) no quarto escuro. Eu devia ter sido astronauta. Ou marinheiro. Com quinze mulheres! E desligou a TV fugindo da companhia absurda.
Era advogado. Culpa da gravata vermelha que ganhou de uma tia aos oito.
Gastou quase dez minutos sentado à beira da cama. Era como contornar impacientemente a mesa da sala de jantar sem ter que contornar a mesa da sala de jantar.
Alô? Não, não é daqui. Não, meu senhor, não é! Bateu o telefone que acabara de tocar. Bateu e pulou para alcançá-lo novamente. Há horas impedia-se de tocar o aparelho e, quando houve a oportunidade, traiu-se. Tocou. Até quase quebrar cada tecla.
Quem você pensa que é?! Quem... o que é você? Que vil, estupida, pequena! Me diz, o que você fez com tudo?
Não ligou para ela. Ligou para o Felipe.
“Que que eu faço, cara? Que que eu faço agora?”
“...esquece, pô... Não pode fazer nada. E mulher é assim mesmo. Já isso passa.”
E encheu outra vez o copo de conhaque.

3 comentários:

Rayanne disse...

Que algumas ausências
calam vazios escuros na gente
Segredam coisas
onde o tempo parece deixar de existir.

***Estrelas***

Anônimo disse...

Fazer o que o coração diz, ou não fazer. Eis a questão.
a vida é unica, os momentos e decisões.
blog muito bom, devia publicar um livro de poesias....

Thiago Moreira disse...

...e ainda assim, olhando pela luz medíocre do abaju, ver que esqueceu de esconder a esquecida promessa de felicidade.. :)

cabeção! qdo a gente vai sair!? :D