terça-feira, julho 25, 2006

fuga

Passava por entre o som e as pessoas na sala fechada. Os passos seguiam num volume ensurdecedor o ritmo da música - só assim conseguiam espaço por entre as centenas de braços e pernas que se moviam freneticamente. O cheiro úmido do ambiente lotado agora tomava seu ar, enquanto os tapas do som em seu peito o empurravam em direção à saida. Essa maldita luz piscando, e a série de choques de cotovelos e cinturas e corpos e pés o acompanhavam pelo caminho. A porta era longe, como era longe agora o copo que uma mão descontrolada acabara de fazer cair. Mais cotovelos e mais braços, e mais pernas e cinturas e lábios e frações inteiras de qualquer coisa - desses pés todos, quais seriam os seus?! - Um rosto, um rosto!! Não havia ninguém no caminho. Então, enquanto abria os olhos após um leve suspiro, a porta o empurrou para fora.
Era leve a imitação de silêncio do lado de fora. Caminhava através do corredor escuro observando atentamente o teto do único modo que conseguia não observar nada. A máscara parecia apertada. Quente. Sem desviar os olhos para baixo, puxou-a do rosto com algum desprezo e atirou-a para trás. Seguiu assim, com o rosto baixo, o caminho até chegar a um jardim. Andou alguns metros pela escuridão até a base de um arbusto onde, fraco, deitou-se - ou caiu, não sabia bem definir.
'Alô?' Parecia muito longe o som em sua mente. Procurava identificar entre os zunidos todos em sua cabeça o que o chamava. 'Alô!?' De repente, despertou com um susto, abrindo rapidamente os olhos ainda doloridos sem saber bem o porquê.
Por entre as palhas de um coqueiro, Órion o observava curioso. Alerta, correu a vista para o lado encontrando dois olhos muito azuis - esses perigosamente mais próximos que os primeiros - tomados por uma vermelhidão desconcertante. 'Está bem?!' tornaram a falar os olhos, agora mais calmos. Eram olhos estranhos. Explícitos. Violentamente explícitos e inesperadamente doces, apesar da (ou por causa da, é difícil dizer) vermelhidão.
Respondeu ‘oi...’, e a noite foi boa como a muito tempo não era.




[estou voltando... enfim...
e, soh pra constar: odeio não ter tempo.
vou botar um monte de coisa em dia - eu mesmo , principalmente - antes do final da semana :)]

4 comentários:

Rayanne disse...

Entre a confusão doa dia
e a boemia
Sempre haverá espaço:
poesia.

Estrela.

Vanessa Campos disse...

Mas os dias e as noites e avida são assim, caóticos e deliciosos. Bom conhecer aqui...

A czarina das quinquilharias disse...

bonito e inesperado.
beijos

Cristiano Contreiras disse...

Sentires plenos.