quinta-feira, outubro 06, 2005

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ninguém devia ficar só num sábado a noite...
mas se ficar, que tenha um guardanapo e uma caneta a mão...

A noite me fala por línguas estranhas.
Paro e me ouço...
Um eco sem um som.
de quem eh essa voz?
me fiz incompleto e impotente.
pego emprestada uma voz qualquer
E grito! - ou penso gritar,
mas soh uma sombra sarcástica me ouve.
Grito um grito errado,
desses que espantam as coisas boas
e atraem as más.

Talvez eu devesse correr.
Correr muito. Correr rápido.
Mas, correr?
eu sento à mesa de um bar e espero.
enquanto houver música, espero.
(talvez o eco suma...)

Uma melodia amarga, um whisky melancólico e um homem dissonante.
Não quero acabar a noite mais feliz.
(sei que a felicidade eh a mais cruel tristeza
porque nunca vai além de cinco minutos)
Não, não busco a felicidade.
Esquecer deve bastar.
Isso! esquecer tudo por esta noite
e esquecer essa noite amanhã pela manhã.
Por hora, no entanto, só me concentro no que estiver ao alcance da mesa.
Grave: Ainda estou cheio e o copo já está vazio.

A música?! Onde está a música da noite passada?
A música, e as danças
e as cores, e as mulheres
O que se fez da noite passada?
Passou.
Mulheres levam as noites embora
e deixam lembranças em branco e preto a nos atormentar.

Convencido, levanto os olhos
e apago o meio cigarro que me resta.
Não vou amar mais nada.
(de quem eh essa maldita voz?!)

O bar atrás do espelho ao fim do bar
é animado, estranho, vário.
a música parece boa.
Alheio, ao fundo, um homem.
É fraco, de olhos inconfundivelmente velhos
-muito mais velhos que o resto do corpo.
Levanto , ele levanta
dou um passo para trás, ele também o dá
viro as costas para o outro bar
e um turbilhão de xingamentos ternos me chama de volta à mesa
erguendo seus copos
e propondo um novo brinde.

(acabaram de estragar uma noite inteira de conclusões.)

Um comentário:

Anônimo disse...

A cada segundo vivenciado piscamos e vivenciamos nosso passado.