quinta-feira, dezembro 29, 2005

AHHHH!!!!!!


Cansei! cansei disso.
Isso que me sopra a nuca quando vem a noite;
Isso que me toca suave a ponta dos dedos
e que eu não posso tocar...
Chega!
estou a muito tempo procurando
qualquer coisa que não se desfaça ao primeiro toque...

Sim, as coisas não devem ser tocadas,
mas e daí?! que graça têm, então?!
que se toquem as coisas, e se quebrem, e se atirem todas contra a parede
que explodam todos os relicários, e que explodam também as paredes!
que restem soh portas e janelas que se pulem todas as noites
para que as coisas - e as pessoas - sejam tocadas.

minha vida está de pernas p´ro ar
e meio sem pernas, também...
mas de algum jeito, eu passo por tudo isso correndo.

de repente me vi condenado.
eu era inocente
e não há crime maior que a inocência.
eu quero agora ter culpas,
Livros cheios de culpas
com índice e bibliografias repletas
de todas as culpas dos homens!

não, eu não ligo mais
(ou ligo e finjo que nao ligo...?)
acho que nada mais pode machucar
quando não se há um porque machucar.
O que eh uma mágoa se nada incomoda, agora?
Não, eu não quero ligar p´ra mais nada
Explodam-se novamente todas as coisas!

ontem eu joguei um limao na água
mas nao esperei pra ver que som fazia...

sim, eu estou cheio de raiva hoje
não, não sei porque.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

caramba, já eh natal...

que estranho, pra mim ainda parece outubro.
Esse ano eu não vou dar presentes.
Ao invéz disso, vou mandar umas cem cartas.
Ninguém responde cartas de natal.


Minha amiga quer ser o papai noel...
Imagina que loucura?!
Aposto que papai noel daria tudo pra ser ela.
Imagine como eh passar centenas de natais longe de casa!
é certo que papai noel eh um homem triste.

O natal me lembra solidão.
Solidão e infância, na verdade.
Mas alguma infancia só
de alguma criança a quem foi negado um sorriso
e a quem as fadas vêm todas as noites
contar histórias de crianças felizes
que sonham um dia conhecer minha amiga.

O natal deixa a gente mais só quando se está só.

As renas do papai noel não devem ser sós.
Nem os presentes - que ganham crianças todos os natais,
Nem as luzes dos jardins - que passam as noites conversando com as estelas.
Acho que soh eu e o velhinho que sofremos disso.

quando eu crescer eu quero ser um elfo.

quinta-feira, dezembro 08, 2005

cada uma...


sei nao... mas acontece cada coisa estranha comigo...


Coisa estranha... você acredita em magia?
pois eu posso jurar que acabou de entrar pela janela uma fada!
sim, dessas com asinhas, varinhas de condão e tudo mais...
passou por entre as frestas das venesianas enquanto ninguém olhava
e aconchegou-se no canto do armário, num livro da cecília meireles.
Daí, quando eu já ia dormir, aquele brilho leve me chamou atenção.

-Quem eh você, que carrega o peso dessas asas enormes e ainda eh capaz de brilhar assim como quem sorri, e de sorrir assim... como quem dança?

-Quem eu sou? Não sei... nunca me fizeram essa pergunta antes... nem nunca me responderam. Acho que eu sou isso... duas asas bem grandes, um brilho, um sorriso e uma menina pendurada nisso tudo. Não sei... minha natureza não são perguntas nem respostas... eu não sou lógica, sou mágica!

-E por que você está aqui?

-Não sei... por que você está aqui?

-Ora, eu moro aqui!

-Ah, então deve ser por isso que a gente está aqui! Eu vim falar com você.

-[nao falei nada... soh fiz cara de interrogação]

-Isso! falar com você. Eu quero que você pense em três desejos e me diga.

-Bem... se eh assim... eu quero...

eu quero ser uma formiga!
eu quero morar num formigueiro
e me empanturrar de coisas doces o dia todo
e passar o tempo andando pelo jardim
e dormir sempre com aquele cheiro de terra molhada
e ir aonde eu quiser
e entrar em qualquer lugar sem ninguém me ver
e ninguém me ver
até eu morder quem eu quiser.
mas ai, quando essa pessoa me notar vai me esmagar de raiva
e vai ficar tudo como está agora.

espera... acho que nao...
eu quero ser uma música!
mas uma bem simples...
alguma coisa em lá menor!
perfeito! nenhuma tecla preta,
nenhum contra tempo, e nenhum acidente
e eu quero correr por 7 oitavas
e eu quero no bem finzinho
quando vier aquela vontade de chorar
mudar de tom e virar um blues.
e quero também um copo de um scotch sobre o piano
e, se der, quero também ser o pianista
mas de um jeito ou de outro eu ia chorar no final da música...

não, ainda não está bom...
eu queria... eu queria voar!
e ver tudo do alto!
e ter asas enormes, ou ser só asas!
e não precisar de motivos pra sorrir sempre
e entrar nas casas pelas venesianas
e sumir quando bem entendesse!
e não ter perguntas, e não precisar de perguntas!
e nem querer repostas!
mas ai eu acho que eu ia ser só...

não... acho que talvez esteja bom assim, como está.
Ter tudo isso de vez enquando
e não ter nada disso no resto do tempo

-Então eu acho que vou indo, já acabei por aqui.

-Espera! Eu posso pedir o de sempre! Dinheiro, poder, tempo... você vai sair sem realizar nada?

-Realizar? Quem falou em realizar?! eu sou uma fada, não um gênio!... eu soh precisava fazer você pensar um pouco...

E ela foi embora pela chaminé.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

rotina...

sobre um cara que eu conheço...

Ele acorda cedo, senta à beira da cama,
espera a manhã chegar e ela chega.
É sábado, ele tem essa magia de ser sempre sábado.
Lava o rosto e procura uma ruga nova no espelho
Come qualquer coisa de ontem na geladeira
e sai pela cidade sussurrando um blues improvisado.
Ele tem 27, agora.
Tem seu carro, seu emprego
e vive a 60 sonetos por segundo
Seus olhos rimam
e suas mulheres marcam o ritmo de cada verso.
A rua sorri e ele simplesmente não pode não responder.
existe qualquer coisa de íntimo
nessa estranhesa dos dois...
A tarde vai passando lenta...
Louco, nostálgico, apaixonado
- como tudo isso, e como nada disso, mesmo -
faz músicas para todas as mulheres que nunca teve.
Enquanto ainda houver algum vermelho no céu da tarde
Enquanto ainda houver algum violão na voz da tarde
ele fará musica.
A noite rápida chega com seus desejos.
Ele tem aquele olhar,
e aquela voz, e aquele jeito,
e aquele sorriso meio triste que as mulheres todas adoram.
Pára na noite, espera olhares perfeitos
e escolhe entre eles o mais vazio.
Aprendeu com outros sábados que
algumas palavras - as mais importantes - não são ditas:
são beijadas.
acaba, assim, a noite recitando grandes odes fantásticas.
Minutos depois, vem o sol
despertando-o da noite que ele não dormiu.
A aguda dor de cabeça o faz lembrar dos olhos da noite passada.
Então, triste, se põe outro dia a procurar novas rugas
Porque ele já tem 27
e ninguém com quem construir um domingo
ele tem essa maldição de ser sempre sábado...

acho que deu +- pra entender, neh?
num vou mais falar do calendário por hj...